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Newton, Einstein e Phil Collins. O Entrecruzamento da Ciência com a Arte.


Salve, Salve Graves, Médios & Agudos!!!

Sejam todos bem-vindos!!!


Caso ainda não tenha lido a primeira parte desta série inaugural, sugiro que clique aqui para ler:



Bem, depois de feitas minhas apresentações e motivações, sigo em frente na missão de contribuir com a nossa compreensão sobre o que é arte e o que é ciência no mundo do Áudio.


E é nesse entrecruzo que discorrerá o blog da AUDIOMUNDO.


Em meio a tantos blogs competentes sobre o assunto, pretendo dar um toque mais filosófico para nossas conversas.


Vou tentar colocar em perspectiva três momentos conhecidos da humanidade (o terceiro, caso não conheçam, saibam que deveriam):


1) Newton desnorteado com a maçã que caiu na sua cabeça.

2) Einstein vislumbrando a relatividade da criação.

3) Hugh Padgham desesperado em frente a mesa de som tentando entender o que Phil Collins queria.


Mas onde esses três eventos se enquadram?

Todos eles fazem parte deste entrecruzo entre Arte e Ciência.

Se pensarmos no Método Científico temos, por definição, que Ciência é um método consistente que considera três etapas a serem seguidas


Observação

Formulação de hipótese

Verificação


O pesquisador formula uma questão a qual entende que precisa responder e espera obter respostas satisfatórias após observações rigorosas. Estas observações, após um número adequado, vão constituindo os fatos científicos e caso os dados apresentem coerência, cria-se então uma generalização. Essa generalização levanta a criação de uma hipótese. Após a repetição das observações em cima desta hipótese, que se apresenta sem nenhuma alteração, daí então é criada uma Teoria Científica, passível de ser refutada, por outros pesquisadores ou pelo mesmo pesquisador.


Mas nem sempre foi assim.


Tempos atrás a Ciência soava magnânima. O auge romântico provavelmente se dá com o período conhecido como Renascença, onde figuras históricas como Leonardo Da Vinci, Donatello, Sandro Boticcelli, Michelangelo, dentre muitos outros, primaram pelo talento ora científico, ora artístico.


E esse é um período de amizade profunda e íntima entre a ciência e a arte.

Mas se temos uma definição e um método para explicar o que é Ciência, teríamos o mesmo para explicar e definir a Arte?


Bem, as coisas começam a ficar mais difusas por aqui, mas nem tudo estará perdido.

Arte vem da raiz etimológica ARS, que em Latim, significa “habilidade” no sentido de Ofício. Trabalho.


Pensemos que o antepassado do artista fosse o artesão.

Aquele que criava obras diversas cuja característica principal era sua técnica, sua habilidade incrível e quase que impossível de ser recriada.

Peças únicas que passam a ter valor agregado.

E percebemos de como isso na verdade não mudou, mas é uma conversa mais extensa.


A arte passa com o tempo a se descolar do seu caráter oficioso e tais habilidades se dividiram em sete: Música, Pintura, Arquitetura, Escultura, Literatura, Dança, Cinema, Teatro,, Histórias em Quadrinhos, Videogame, Áudio... ops... passei de sete, as vezes sou ruim de conta (rsss).


Vejam que somente aqui da para nós fazermos uma viagem no tempo da jornada humana, desde a música até o cinema, mas vamos tentar focar nas definições, ou melhor, na tentativa de...


Dentre tantas definições e exposições a que mais considero ser relevante para o tema vem de um maestro e musicólogo suíço, Ernest Ansermet que diz: “Falamos de Arte cada vez que uma atividade qualquer exige daquele que age, uma qualidade pessoal que é posta em evidência”


Essa definição ajuda no raciocínio que tenho em inserir nós Técnicos em Áudio na categoria artística, porém existe um segundo elemento que agrega e é por onde os textos e definições colidem.


O BELO.


Como escreveu Vinicius em seu Receita de mulher - “me desculpem as feias, mas beleza é fundamental”... apesar de todo o ideário machista inserido nessa frase, fico a pensar se poderíamos nos utilizar dela pensando que Vinicius se balizaria pela Arte... Mulheres como sendo uma representação das Nove Musas inspiradoras da Arte (mas não foi né... enfim).


Aqui o assunto fica deveras escorregadio. O que é Beleza? O que é belo para um é feio para o outro? O que é o Feio? O oposto do Belo? O Feio pode se tornar Belo? O Belo tende a se tornar Feio ao longo do Tempo?

Entramos no mar do infinito, que abre margem para frases e mais frases, até mesmo de cunho nada aceitáveis, como a supracitada.

Porém não posso fechar os olhos para que a discussão de “Beleza” é inerente a História da Arte.

Na história do Áudio não foi diferente, vejamos o exemplo do conceito de Masterização por exemplo. Um dos primeiros discos a obter essa tecnologia artística foi o clássico “The Doors” disco de estréia da banda de Morrisson e cia isso em 1967. Este disco rompeu estruturas com a Produção musical de Paul Rothchild, gravado pelo engenheiro de som Bruce Botnick no Sunset Sound Studios e “mastered by Doug Sax at Mastering Lab”. Bem, a idéia de masterização como concebemos nos dias atuais, já dava seus passos iniciais pelos incômodos de Geoff Emerick, engenheiro de gravação dos Beatles, em conseguir que o disco gravado por ele soasse com a qualidade que ouvia nas gravações da Motown, esse disco era o também clássico, Revolver. Mas foi Doug Sax quem inaugura a idéia do estúdio especializado em masterização com seu Mastering Lab e o primeiro disco feito pela sua empresa é o já citado The Doors.


Mas, e o Belo?


Bem, a idéia da masterização pode muito bem se aplicar neste conceito. Pois o incomodo de vários engenheiros de som era que seus discos obtivessem uma sonoridade clara e padronizada aos diversos falantes sonoros disponíveis no mercado. Ou seja, cada disco deveria ser ouvido com a mesma qualidade independente do sistema de som que o ouvinte possuía. Missão absurdamente difícil e que seguimos nela até os dias atuais.

Seria esse o “Belo” na arte do Áudio?

Bem, já temos problemas com isso ao parearmos o “Belo” com Sucesso, pois discos com masterizações tão díspares em épocas diferentes fizeram relativo sucesso sem que o padrão de masterização da época soasse... belo (?)

Um exemplo mais recente é o disco Ventura dos Los Hermanos, que tem masterização do fantástico Carlos Freitas, porém de acordo com o Produtor musical Kassin, este disco tem uma Master “velada” proposital e escolhida pela banda. Na época do lançamento esse aspecto do som foi comentado, pois não era o que estava soando de comum no mercado musical nos idos de 2003, ano de seu lançamento.

Enfim, o que é Belo?

Por isso a definição para Arte do maestro Ansermet me agrada mais, porém não posso dizer que é a única definição para o tema, longe disso. Este assunto é inesgotável e provavelmente desnecessário.

Mas é nessa definição que me alicerço ao dizer que Áudio é também uma Arte tão bem articulada como a Literatura ou a Pintura.

Por mais que o Áudio esteja entre aspas inserido em outras Artes, como sua irmã mais notável sendo a Música, a Arte do Áudio também se abrilhanta inserida no íntimo de outras artes como a Arte do Teatro, do Cinema, dos Games... mesmo primas distantes e que parecem não querer iniciais entrosamentos sonoros, a Pintura reavalia isso ao transpor sua arte em intervenções artísticas onde o som compõe a imagem afim de causar uma maior imersão no espectador (gravem isso, Imersão, falaremos mais sobre em breve). Nem mesmo a prima com mais aversão ao som, a Literatura, escapa ao longo do tempo, vide a explosão dos AudioBooks nos dias atuais.


Mas e Newton? Einstein? Phil Collins... ou melhor, Hugh Padgham...?


“A natureza e as leis da natureza estavam imersas em trevas; Deus disse ‘Haja Newton’ e tudo se iluminou”


Sir Isaac Newton foi um jovem grandioso em sua introspecção, dentre vários feitos o mais famoso é uma mítica maçã que cai no momento em que observava um pomar (sim, a Ciência também respira seus mitos) e assim ao se perguntar - porque cai a maçã?; vislumbrou o que posteriormente se torna a Lei da Gravitação Universal.

Já Albert Einstein que não é Sir mas é o maior dos maiores cientistas reconhecidos neste mundo, desenvolve sua Teoria da Relatividade Especial e vira de ponta cabeça a Física Clássica Newtoniana, ao seguir sua intuição após conversas e questionamentos de seu nobre amigo Besso.

E Hugh Padgham? Bem, aqui está o nosso representante do mundo do áudio para um mesmo evento e condição humana, a de seguir um caminho intuitivo para fins científicos que se amalgamam em Arte.


Esta história é conhecida no meio musical e reproduzirei conforme ouvi da primeira vez.

Padgham era o Engenheiro de Gravação do renomado Peter Gabriel e em seu terceiro disco solo “Melt” onde nasce a técnica do ‘Gated Reverb”.

O Baterista era o também renomado Phil Collins, que por sinal entrou para o Genesis a partir do terceiro disco e o corresponsável por criar aquele efeito de reverb que se tornou assinatura da “Caixa Phil Collins” e de praticamente muito do que ouviríamos nos anos 80.

Se a Ciência tem seus mitos, não será a Arte do Áudio que não terá os seus não é mesmo?

Reza a lenda de que durante esta gravação, Padgham e o Produtor do álbum, Steve Lillywhite usavam o microfone talkback da mesa de som para se comunicar com Phil.

Phil ouvia o som de sua caixa de uma forma diferente da que eles ouviam no sala técnica de mixagem. Phil gostava do que ouvia porém aconteceu um problema.... Phil não ouvia mais.

Phil passa a cobrar de Padgham aquele som novamente e o mesmo ficava sem entender o que Phil estava ouvindo. A gravação estava parada. Padgham precisava entender o que Phil tanto queria e insistia. Após inúmeras checagens de vias de fone, ou mesmo novas modulações do reverb, Padgham percebe que o que Phil ouvia era na verdade a volta do som de sua bateria pelo microfone de Talkback da mesa de áudio que havia ficado aberto, por mero esquecimento em algum momento da gravação.

Eureka.

A maçã havia caído na cabeça de Padgham.

Phil Collins e sua inquietação eram como os questionamentos de Besso para Einstein.

Nascia assim o Gated Reverb.

Afinal o microfone de Talkback de uma mesa de áudio tem por característica possuir um padrão de gate rápido para impedir que os sons oriundos da técnica atrapalhem a performance de um músico durante uma sessão de gravação.

E realmente não atrapalhou, ou quase....

Para ajudar no exemplo ouçam a abertura deste álbum incrível.

Ouçam a música Intruder e sua memorável abertura com a bateria em evidência.

Deixo abaixo o link para facilitar.



Bem, meus Irmãos do Áudio...

Nobres leitores Graves, Médios e Agudos...


Como disse Ansermet: “Falamos de Arte cada vez que uma atividade qualquer exige daquele que age, uma qualidade pessoal que é posta em evidência”


Isso é Arte.

O Áudio é uma Arte alicerçada na Ciência.

Como assim são todas as Artes.


Essa é minha visão.



Decibeijos ;)

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